Diana
queria saber mais. Tinha de saber. Havia dias que não via Rafael, por mais que o
procurasse. A conversa com o seu pai não dera os frutos que esperava, de facto,
tinha servido apenas para levantar mais questões. Voltou a lembrar-se da
Senhora do Bosque. Sentia-se cada vez mais tentada a ignorar as histórias que
sobre ela se contavam para saber um pouco mais. Se ela fosse uma feiticeira,
renegada ou não, seria capaz de ajudá-la.
Decidiu não
esperar mais. Encontraria a Senhora do Bosque e seguiria o seu intento. Deixou
a vila, afastou-se das muralhas e da sua citadela. Embrenhou-se na floresta
pelo seu pé. Pensou se não estaria a cometer um erro, mas nada a faria voltar
agora. Logo saberia se receberia ajuda ou não. Seguiu em direcção a Norte até
chegar ao grande carvalho de que lhe tinham falado. Dali seguiu sempre em
frente em direcção ao sol poente. Não tardou a encontrar uma clareira ladeada
de árvores. Olhou em volta. Sabia que a cabana que procurava não seria longe
dali, pois o círculo na floresta era considerado o Bosque Sagrado. Decidiu
parar um pouco antes de continuar. Olhou a clareira. Pediu respeitosamente ao
Espírito do Lugar autorização para entrar. Avançou então até ao meio do círculo
e sentou-se no chão. Sentiu que as energias daquele local sagrado lhe poderiam
ser úteis de alguma forma. Sentia que precisava delas. Não sabia bem o que
fazia, seguia apenas o que estava a sentir. Pousou as mãos no solo, fechou os
olhos, inspirou profundamente e pediu à mãe Natureza que a ajudasse na sua
senda ali. Por momentos pareceu-lhe sentir a pulsação da terra. Abriu os olhos
e olhou em volta. Ninguém. Voltou a sua atenção uma vez mais para a terra e fechou
os olhos. Voltou a sentir aquele pulsar, sentiu uma energia fresca subir-lhe
pelos braços, percorrê-la. Sentiu a terra, as árvores em volta, os pássaros, o
vento, o sol. Sentiu-se parte de tudo aquilo e cada elemento parte de si.
Sentiu-se leve, revigorada.
Abriu os
olhos e viu uma figura feminina esgueirar-se por entre as árvores. Devia ser
ela, pensou. Decidiu segui-la, mas por mais que a procurasse, não voltou a
vê-la. No entanto, ao seguir naquela direcção, não tardou a encontrar uma
cabana. Chegara. Só lhe restava entrar. Sentia as suas energias e motivação
renovadas. Antes de bater à porta, ela abriu-se. Uma mulher olhou-a nos olhos e
convidou-a a entrar. Não conseguia imaginar a idade da mulher, talvez devido às
histórias que tinha ouvido. Mas apesar de os anos parecerem ter passado por
ela, achou-a muito bela. Sentiu o seu olhar sereno. Era dali que vinha a sua
beleza. Diana entrou e agora que ali estava, não sabia por onde começar. Como
se o percebesse, a mulher iniciou a conversa.
- Esperava
por ti. – disse.
- Por mim?!
Sabeis quem sou? – perguntou Diana sem saber o que pensar.
- Sei que me
procuras.
- Como?!
- Ninguém
chega ao Círculo Sagrado sem que eu o perceba. E se o faz é porque me procura.
- Por
instantes pensei que soubésseis mais... – respondeu Diana.
- Mais?... O
que esperas que eu saiba?
- Espero que
me possais ajudar a saber mais sobre mim... – disse acariciando o seu pulso,
quase sem dar por isso.
- Referes-te
à magia que te corre no sangue?
Diana sentiu-se
novamente surpreendida pela pergunta da estranha mulher que, se nada sabia
sobre si, parecia lê-la muito bem.
- Posso
senti-la! – Disse, sorrindo, como que
respondendo à sua dúvida. – Vem, senta-te.
Diana avançou
até ao banco indicado pela mulher. À sua direita via ervas penduradas por cima
de uma janela frente a uma bancada que deveria servir para preparar o que
pensou serem remédios. Em cima desta, via pousados diversos frascos com ervas e
preparados. À medida que avançava, um cheiro adocicado a ervas se ia tornando
mais forte. Apercebeu-se que vinha de uma mistura que fervia no lume ao seu
lado, agora que se sentava. Olhou a mulher à sua frente que sorria perante a
sua curiosidade e constrangimento.
- O meu nome
é Selénia e quem vem até aqui, procura geralmente uma cura para algum mal seu
ou de alguém próximo.
O seu sorriso
e o seu olhar profundo tranquilizaram-na.
- Chamo-me
Diana e não sofro de um mal físico, mas de um vazio que me angustia. Preciso saber
mais sobre as minhas origens!... A cura que procuro é o conhecimento!
- Esse não
posso oferecer-to com as minhas ervas e preparados. Terás de o encontrar em ti.
- Mas podeis
ajudar-me a pedir ajuda aos meus antepassados?
- Posso
chamar a ti a Visão, o que ela trará não sei.
- Assim seja.
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