fotografia de Sofia Morgado |
- O que
queres rapariga? Desembucha de uma vez!
Tinha sido
apanhada desprevenida.
- Eu?!
- Sim, o que
queres?
Diana
hesitou.
- …Um destes
dias sonhei com um momento em que era bem pequena…
Mauro
levantou o sobrolho e voltou a olhar para o trabalho que tinha em mãos. Diana
pensou que já que tinha começado, teria de arriscar.
- Sonhei que
a minha mãe de sangue me disse que eu teria de ir para longe, pois corríamos
perigo!...
- Estou a
ver… - disse ele entre dentes.
- Porque
correríamos perigo é que não percebi! Penso que era demasiado pequena para o
compreender.
- E o que
esperas que te diga?
Diana avançou
até ele e, baixando-se e olhando-o de frente, resolveu perguntar-lhe
directamente:
- De que
tinha ela medo?
- Apenas sei
dizer-te que tinha algo a ver com a magia. – Respondeu Mauro de forma seca.
- Será que
teve algo a ver com o incêndio? Como foi que aconteceu?
Tornava-se
cada vez mais claro que Mauro não queria falar sobre aquilo. Ele
pareceu remoer na questão até que acabou por responder.
- Foi um
incêndio, rapariga! Como esperas que tenha acontecido?! Porque insistes neste
assunto?!
- Porque
tento perceber o que aconteceu! Porquê?!
- Não
cuidámos de ti, Alba e eu? Não te demos uma família?!
- Não é disso
que se trata!... Porque é que este assunto vos irrita sempre tanto?!
-
Irritar-me?!? Achas que não deva irritar-me? – Disse visivelmente alterado e
levantando-se do banco onde estava sentado - Não foste a única a perder família
naquele dia…!
- Como
assim?! – Diana não sabia de que ele falava.
Mauro andou
em volta da mesa onde trabalhava. Parecia ter falado mais do que queria. Diana
continuava a inquiri-lo com o olhar. Ele aproximou-se de si, segurou-lhe a mão e
falou, finalmente, numa voz mais calma.
- Junto de
teus pais, estava minha irmã e sua filha… uma menina que tinha a tua idade!
Diana não
sabia o que dizer, o seu queixo pendia com a surpresa.
- Era a mãe
de Dália e Hugo.
- Perdoai a
minha insistência! Não sabia…! - Dizia Diana colocando a outra mão em cima das
de Mauro, que seguravam a sua.
- Sobrinhos
ou não, preferimos ter-vos por igual e nunca contar o que acontecera. Eram
todos pequenos, mais rapidamente esqueceriam o sucedido. Mas tu, tu sempre
quiseste saber mais, sempre perguntaste! Nunca deixaste ir!...
- Deve ter
sido terrível para vós!...
- Parece-me que aceitei melhor o que aconteceu do
que tu! Porque não o aceitas? Porque não deixas ir?
Diana hesitou antes de responder.
- O que elas faziam lá?
- Minha irmã trabalhava na casa da tua família. Alba
tinha-te trazido para passar uns tempos connosco, parece que a pedido da tua
mãe de sangue. Depois soubemos o que aconteceu e… a tua mãe… Alba, não tinha
sido agraciada pela Deusa; não tínhamos filhos… Dália era apenas um bebé e o
marido de Ilena, minha irmã, foi-se embora e… cuidámos de vocês como se fossem
nossos filhos!
- Meu pai… - começou Diana, mas Mauro interrompera-a.
- Por isso, pergunta agora o que queres e deixa o
assunto ficar no passado de vez – onde pertence!
Face a tal revelação, as perguntas pareciam perder
importância. Diana forçava-se a encontrá-las. Poderia não voltar a ter outra
oportunidade para fazê-las.
- Dizeis que minha mãe estava assustada por algo que
tinha a ver com a magia…?
- É só o que sei.
Diana pensava em silêncio.
- Agora percebo porque esse assunto vos afecta tanto
e porque nada quereis saber de magia…! Ainda assim vós me acolhestes…!
- Porque não havia de fazê-lo?
Diana
encolheu os ombros.
- Que mais
queres saber?
-... O
incêndio teve algo a ver com o perigo que corriam?
- Nada sei
sobre esse assunto. Prefiro pensar que o perigo que a tua mãe de sangue
pressentiu foi o próprio incêndio!
- Minha
mãe...Alba ou a vossa irmã contavam algo sobre como era lá por casa?
-... Alba
gostava muito deles, dizia que eram boa gente, preocupados com o bem-estar dos
outros em volta. Não esqueço as vezes que nos ajudaram através de minha irmã Ilena!...
Alba dizia que Neusa andava nervosa com alguma situação relacionada com o seu
pai, o teu avô... algo que tinha por resolver.
- Uma situação?!...
- Nada mais sei!
- Sei que não gostais de falar destes assuntos, mas
tenho que perguntar… o que sabeis sobre a minha marca e a sua magia?
- Apenas sei que é um símbolo da magia que corre no
sangue da vossa família; o poder do dragão da lua. Nada mais sei. Neusa era uma
mulher respeitada pelo povo, assim como o seu pai, mas os tempos mudaram… Este
tornou-se um assunto muito perigoso e muitas histórias se contam, já nem se
sabe muito bem se com um fundo de verdade ou com algum propósito!
Diana sentia que cada caminho se lhe afigurava sem
saída. Precisava de respostas e temia agora que o seu pai de criação também não
as tivesse.
- Ilena era a mãe de Dália e Hugo? – acabou por
perguntar.
- E de Luana.
- Luana era a criança… ?
Ele anuiu.
Ele anuiu.
- Teria mais ou menos a tua idade.
Diana registava mentalmente toda aquela informação.
Procurava avaliar o peso que tudo aquilo teria tido para ele.
- Mas Hugo é mais velho… ele não perguntava?
- Apenas um ano de diferença! Era pequeno o
suficiente para esquecer tudo e aceitar uma nova vida. Rapidamente deixou de
nos chamar tios e nos passou a tratar por pai e mãe, tal como vocês duas!
Diana não sabia o que mais perguntar ou dizer. Mauro
antecipou-se.
- Alguma outra pergunta que queiras fazer?...
Diana abanou a cabeça, sem encontrar mais palavras
que fizessem sentido naquele momento.
- Aproveita agora porque quero enterrar o assunto de uma vez
por todas! Não quero mais perguntas sobre esta história!
- Ficai descansado, meu pai. – Fora apenas o que lhe
ocorrera.
Diana deu um beijo na face de Mauro, esboçando um leve sorriso e voltou aos seus afazeres. Quem entrasse naquele momento, pensaria que a manhã teria passado tranquila naquele lugar e que nada se tinha passado.
Diana deu um beijo na face de Mauro, esboçando um leve sorriso e voltou aos seus afazeres. Quem entrasse naquele momento, pensaria que a manhã teria passado tranquila naquele lugar e que nada se tinha passado.
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