Diana
havia dormido mal, não conseguia esquecer os acontecimentos dos últimos dias.
Dissera em casa que não se sentia muito bem e que precisava apanhar um pouco de
ar fresco e em vez de sair para a venda, como era habitual, foi dar uma volta
até aos limites da citadela. Deu por si no mesmo local onde tinha encontrado
Rafael pela segunda vez. Não havia ninguém por perto. Sentou-se um pouco a
pensar em tudo o que acontecera. Recordou o sonho com a sua mãe. Parecera-lhe
tão real! Do que fugiria? O que teria acontecido? Teria o incêndio algo a ver
com a ameaça que parecia pender sobre a sua família naqueles tempos? Pensava
que seria bom poder voltar a sonhar com a sua mãe, mas não voltara a acontecer.
Pensava como seria bom ter com quem falar sobre a magia, alguém que pudesse
explicar-lhe o que estava a acontecer consigo. Mas além do seu pai não gostar
do assunto, naqueles dias era difícil saber quem o evitava por medo de quem
pudesse ouvir ou quem o evitava por professar a nova fé.
- Diana? –
soou numa voz feminina, interrompendo os seus pensamentos.
Ela virou-se
e viu Núria, uma amiga de longa data de seus pais de criação, que passava com a
sua filha mais nova.
- Olá!
- O que fazes
aqui sozinha? Estás bem?
- Sim. Vim
dar um passeio e estava de volta dos meus pensamentos. – disse.
- E em que
pensas, rapariga? Em algum rapaz de que gostes? – perguntou sorrindo.
- Não. Em que
pensais! Apenas coisas…
- Não penses
demasiado, Diana! Dália ainda forma família antes de ti!
Diana não
estava a gostar da conversa, mas não queria ser indelicada. Núria era uma boa
mulher.
- ...E em que
tanto pensavas?
- Em coisas
da vida... Na minha família de origem...
Núria
olhava-a demoradamente como que ponderando o que dizer. Até que acabou por
responder
- Noutros
tempos uma visita à Senhora do Bosque poderia ajudar a aclarar as ideias!...
Diana pensou
que continuar a conversa por ali seria pisar em terreno perigoso, mas confiava
naquela amiga da família. Olhou em volta, certificando-se que não havia ninguém
por perto para depois responder.
- Noutros
tempos seria seguro visitá-la?
- Sim. Muitas
histórias se contam sobre a Senhora do Bosque, mas Selénia é uma mulher sábia!
Diana
esperava ouvir mais, mas Núria falava com discrição.
- Teu pai não
gostaria de saber que te digo estas coisas!...
- Nada lhe
direi. Podeis confiar!
Núria sorriu.
-
Conhecei-la? - perguntou Diana.
- Já me
ajudou algumas vezes com as crianças em momentos de aflição! E tem sempre sábias
palavras para partilhar quando delas mais precisamos...
Diana nunca
pensara algum dia recorrer à ajuda da Senhora do Bosque. Contava-se que a
Senhora do Bosque se tinha tornado mortal por ter sido expulsa do reino
superior pelos outros feiticeiros, o que dava azo às mais diversas histórias.
Dizia-se que o que acontecera a tornara ainda mais perigosa no reino dos
homens. Núria afiançava, no entanto, que ela era boa pessoa, acabando até por dizer
onde esta poderia ser encontrada. A Deusa parecia estar a indicar-lhe um
caminho em resposta às suas perguntas. Ainda assim Diana pensava que seria
melhor encontrar uma solução mais segura. Decidira avaliar o que poderia
perguntar subtilmente a seu pai.
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