fotografia de Sofia Morgado |
Não passou
muito tempo até que a sua irmã passou por ali.
- Que bom que
estás aqui! – disse prontamente Diana, assim que a viu.
- Vim
entregar uma encomenda aqui perto e antes de voltar para casa lembrei-me de ti
e pensei que podia passar pela praça!
- Os deuses
ouviram-me, pois precisava mesmo de ti aqui. Preciso de me ausentar um pouco.
Não me demoro. Ficas aqui por mim?
- Não devo
demorar-me. Tenho outra encomenda para entregar no caminho.
Dália, irmã
de Diana, ajudava seu pai a trabalhar o couro e a fazer a entrega das
encomendas.
- Vá lá! É só
um pouco. Não demoro!... – insistia Diana.
- Onde vais?
- Preciso
encontrar uma pessoa. Não demoro. Obrigada! És uma enviada dos deuses! – disse
sem demora, afastando-se rapidamente.
- Não te
demores! – ainda pediu Dália sorrindo.
Diana
desapareceu por entre os aldeões.
De um momento
para o outro, os Deuses decidiram agraciá-lo, pensava, mas de uma forma
tortuosa. Não pelo facto do seu portador ser uma mulher, mas por ser alguém que
poderia comparar a uma criança em matéria de magia. Ela nada sabia sobre o seu
próprio dragão! Nada sabia sobre a magia que lhe corria no sangue! Ele
procurava sempre justificar os seus actos com um propósito maior e fazê-lo
apenas porque era o seu destino não lhe parecia agora algo de tão grandioso. Se
fosse um dos que haviam sido portadores daquele poder no passado, parecia-lhe
ter razões de sobra para poupar o mundo de tal perfídia. Mas, mesmo sem
conhecer Diana, dela sentia luz e não a sombra. E apesar de ter virado costas a
qualquer destino que lhe tivesse sido imposto pelos Deuses, era difícil
esquecer todo o seu investimento para aquele momento. Não podia apenas olhar
para o lado e seguir em frente... não sem saber um pouco mais sobre a tortuosa
jogada dos Deuses.
Quando Rafael
viu Diana ao longe, afastando-se da venda de fruta, onde deixara outra jovem no
seu lugar, decidiu segui-la. Conheceria um pouco mais sobre a rapariga. Sabia
que se fosse simplesmente ter com ela, a história dos dragões lhe seria cobrada
e não tinha a mínima vontade de lhe falar sobre isso. Não naquele momento.
Sabia também que ela sentiria o seu dragão assim que se aproximasse um pouco
mais, mas estava demasiada gente na praça para não o fazer. Decidiu, por isso,
segui-la pelos telhados. Dessa forma ela não o veria. Subiu agilmente pelos
apoios do telhado de uma casa próxima, numa rua lateral. Com rapidez chegou lá
acima sem ser visto. Decidiu aproximar-se um pouco mais e focar a sua atenção
nos seus pensamentos. Tal como esperava, apanhou-a desprevenida.
«Preciso
encontrá-lo. Preciso contar-lhe!»
Ficou atento.
A quem se referiria?
«Onde será
que posso encontrar Rafael?»
Procurava-o?
Continuou a segui-la, atento. Acabou por aproximar-se um pouco mais.
Diana sentiu
a sua pele latejar sob o dragão. Olhou em volta. Sentia que ele estava por
perto, mas não o encontrava com o olhar. Rafael apercebeu-se. Ele também sentia
o seu dragão.
«Procuras por
mim?» - ele arriscou.
Diana voltou
a cabeça rapidamente, mas não o viu. Olhou em volta. Sentiu-se confusa. Quase
podia jurar que o tinha ouvido bem perto de si!
«Ouviste bem,
sou eu!»
Ela
assustou-se! Tinha a certeza que o ouvira, mas continuava sem o ver. Agora
recuava, olhando em volta, assustada.
- O que se
passa? Onde estás?
Algumas
pessoas que passavam perto olhavam-na de soslaio e seguiam caminho,
afastando-se.
«Perto. Bem
perto!»
Ela virou-se
de novo. Nenhum rosto conhecido em volta. Recuava. Pensava que ou enlouquecia
ou aquilo era fruto de magia e nenhuma das opções lhe agradava ou sossegava nem
um pouco.
- Ei!
Cuidado! Olha para onde segues! – refilou um aldeão em quem tinha esbarrado ao
recuar.
Diana esboçou
um gesto de desculpas, mas continuava em sobressalto, virando-se, olhando a
toda a volta. Rafael achou que deveria terminar a brincadeira. Parecia-lhe que
a qualquer instante ela dispararia dali a correr.
Cada vez mais
assustada, soou um grito interno e começou a afastar-se, voltando, em direcção
à praça. Subitamente, a mente de Rafael tinha ficado turva, uma neblina negra
surgia e queria instalar-se. Ele cambaleou, pousou a mão no telhado onde se
encontrava. Lutando contra a inconsciência que forçava caminho, procurou aproximar-se
da beira e descer, mas ainda estava um pouco longe. De novo o negrume invadindo
a sua mente, deixando de ver, e uma vez mais vislumbrando a luz em volta,
lutando contra o apagão que ameaçava acontecer a qualquer instante. Cambaleou
de novo e, escorregando, chegou próximo da beira do telhado. Conseguia forçar a
consciência do mundo em volta apenas por breves instantes de cada vez, por
entre aquela neblina que se adensava cada vez mais. Viu uma carroça com feno um
pouco mais à frente, só tinha de conseguir lá chegar e cairia em segurança.
Continuou a lutar. Já na direcção da carroça, deixou-se cair, encurtando a
distância entre si e o chão. Da carroça caiu, desta vez, para o chão e cambaleando
tentou aproximar-se da rua principal.
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