- Nos tempos
que correm temos de ser cuidadosos, mas estamos já nos preparativos para a
Festa Ancestral. A tua participação é bem vinda.
- Pareceis
preocupada com algo. – a voz de Rafael fez-se finalmente ouvir.
- Deveras?
Hmm... Mas pareceis mais preocupado do que eu me sinto... Algo que gostarias de
esclarecer?
Ele estava
certo de ter protegido os seus pensamentos, mas ela parecia ter acesso a mais
do que ele permitia.
- Sabendo o
que aconteceu com o avô de Diana, será prudente ela participar das
festividades? Logo no momento em que o Inverno chega e as trevas se instalam?
Na noite em que o consorte da Deusa se torna o Senhor das Sombras e Rei da
Morte? – pronto. Já não podia voltar atrás! Teria de assumir o seu receio.
Diana
levantara-se, enfrentando-o.
- É mesmo
verdade! Estás com medo que siga o caminho que pensas que meu avô seguiu!
- Que penso
que ele seguiu?! E o que pensas que aconteceu?!
- Não faço
ideia, mas custa-me acreditar que essa seja a verdade!
- Que verdade
queres encontrar?
De súbito ele recordou as palavras de Selénia na sua mente: A verdade das diversas faces. Ele queria que ela encontrasse a
verdade e ela queria encontrar algo diferente. Mas só poderia existir uma
verdade!
- Quantas
faces tem esta verdade? – perguntou a Selénia, enfrentando-a.
Ela parecia
cerrar os dentes com força. Teria sido a pergunta? Aquele assunto? Ficou
intrigado.
- Aquela em
que acreditas, aquela em que Diana acredita, aquela que não queres ver, aquela
que desconheces... Como vês, uma verdade pode ter muitas faces. – Selénia
acabou por responder.
- Mas a
verdade só pode ser uma!
- Qual? A
tua?
Rafael estava irritado e sentia que lhe faltavam os argumentos.
- A verdade
que deixou os nossos dragões em lados opostos! – acabou por responder.
- E essa
verdade é de quem?
- É a verdade
dos factos! É um facto que os nossos dragões querem a pele um com o outro!
- Deveras? Como pode ser se fazem parte da mesma energia, a mesma magia; a do Dragão.
No final é um só.
- Mas está
dividido em 6 dragões distintos, 6 formas distintas de magia!...
- Sim, mas de
uma mesma família.
- Mesmo no centro da família podem existir guerras e conflitos!
- Causados
pela cabeça de cada um, não pelo sangue. A magia, a energia do Dragão é
como o sangue que une a família. Parte de algo maior! Imaginas o teu braço a
atacar a tua perna?
- Seja! Mesmo
que o conflito se tenha iniciado entre as pessoas, de alguma forma
contaminou as energias que estes carregam. Por que outra razão o Dragão o alimentaria?!
- Não percebo
o que dizes...
- É verdade,
Selénia! Os dragões do sol e da lua reagem de forma pouco amistosa entre si!
Selénia olhou
ambos e acabou por esboçar um sorriso que os deixou confusos.
- Têm a
certeza que estão a interpretar devidamente os sinais?
Diana olhou
Rafael. Lembrava perfeitamente aquele momento em que os seus dragões tinham
lutado pela vida.
- Não vejo
lugar para outra interpretação. – respondeu Diana.
- É verdade
que as vossas energias precisam de se acertar, que os vossos dragões têm assuntos
pendentes, mas mesmo com diferentes tarefas, o objectivo de ambos é comum!
Rafael achava
que aquilo não fazia sentido, mas não queria revelar o seu destino mágico, não
na presença de Diana! Procurou mudar o rumo à conversa.
- A minha
questão é: será seguro Diana participar na celebração?
Selénia
olhou-o de novo com tal seriedade que ele pensou tê-la irritado com a mudança de
assunto. Ou seria aquele assunto que a incomodava? Observou-a
atentamente, aguardando uma resposta.
- Receias que
Diana encontre a sua sombra?
- Receio que
esta reclame o controlo... – disse olhando Diana de raspão.
- O que te
diz a tua intuiçâo sobre Diana?
Rafael não
esperava aquela pergunta.
- ...que nada
sabe da magia que carrega!...
- Isso é a
tua cabeça a falar.
- ...que é
confiável!
Selénia ficou
em silêncio.
- Mas não
sabe como controlar a magia do Dragão da Lua! Não sabemos como se poderá
manifestar esta energia!
- Ouve a tua
intuição! Procura a verdade além da verdade que conheces da tua família!
- Como podem
ser diferentes?
- Não digo
diferentes! Mas agora conheces Diana, podes saber mais do que eles...!
- E o que
eles poderão não saber? – Rafael achava que Selénia parecia saber mais do que
dizia.
- Não sei o
que poderás descobrir, mas sinto que há mais a descobrir por ambos. – disse,
como em resposta ao seu pensamento.