Quando
chegaram ao bosque sagrado, Diana pediu respeitosamente ao Espírito do Lugar
para entrar. Apesar de o fazer em silêncio deixou os seus pensamentos a descoberto,
convidando Rafael a fazer o mesmo.
Ao chegarem à cabana, a porta abriu-se, uma
vez mais, sem ser necessário bater. Selénia olhou-os e esboçou um leve e sereno
sorriso. Diana gostava do seu sorriso.
- Diana. –
ela disse num cumprimento, sinalizando-lhe que entrasse.
Rafael olhava-a
curioso e Selénia correspondia.
- Tomei a
liberdade de trazer companhia. Rafael...
- ...em cujo
sangue corre magia e determinação. – terminou Selénia.
Perante a expressão surpresa de
Rafael, esta continuou.
- Posso sentir ambos.
- Falei-vos de Rafael. – disse Diana.
O olhar de Selénia
continuava fixo em Rafael e este decidiu revelar a sua marca, deixando-a surgir
no seu rosto, como se esta esperasse que ele o fizesse.
- Ah... o
portador do Dragão do Sol! – Selénia acrescentou. O sorriso tinha desaparecido
das suas feições e a curiosidade intensificara-se no seu olhar.
- Soube que
Belchior é meu avô! – acabou por dizer Diana, já no interior da cabana.
O interesse
de Selénia foi subitamente transferido para Diana, aproximando-se desta.
- O guardião
de que falaste?
- Sim.
- Senta-te e
conta-me – disse Selénia.
Ambas se
sentaram junto do lume aceso e Rafael permaneceu de pé no mesmo sítio, logo à
entrada, de braços cruzados, olhando-as e ao espaço em volta.
- Soube que o
seu desaparecimento está envolto em mistério e preciso de saber o que
aconteceu, encontrá-lo! ...Se for possível!
- E como soubeste? Por Rafael?...
- Sim, finalmente consegui
encontrá-lo e ele acabou por contar-me o que sabe.
- E o que sabe Rafael? –
perguntou Selénia olhando-o com uma expressão grave.
- A história que existe entre os
nossos dragões!...
- Podeis contar-me essa
história?
Diana anuiu e
contou tudo aquilo que ouvira de Rafael. Este permaneceu o tempo todo em
silêncio. Diana tinha acabado de contar o que tinha descoberto e Selénia
parecia algo incomodada.
- Mais alguma
coisa? Sobre a profecia, os teus pais...?
- Nada mais
sei. Como gostava de chegar ao fim desta questão de uma vez!
Rafael
estranhava algo naquela mulher que olhava Diana como se esperasse ouvir mais
revelações. Não se tinha atrevido a aproximar-se dela ou da sua mente - que
poderes teria? Mas estava agora disposto a fazê-lo. Assim que procurou ouvir os
seus pensamentos, ela olhou de súbito para si como se o percebesse. Seria?
«- O que queres?» – ele ouviu-a
na sua mente.
Estava certo
que ela tinha percebido a sua tentativa. Respondeu-lhe da mesma forma, na sua
mente.
«- Ajudar...!?»
«- Diana?»
«- ...Quero ajudá-la a descobrir
a verdade.»
«- Ah... a verdade das diversas
faces. E que face queres que ela descubra?»
Rafael sentiu-se desconcertado.
«- Que diversas faces são
essas?»
Do outro lado
apenas silêncio. Rafael deu uns passos na direcção de ambas, insistindo com
Selénia.
«- De que falais?
Só conheço uma verdade!»
«- Estás
certo disso?»
Antes que
Rafael conseguisse responder, Selénia voltou a falar para Diana, resgantando-a de
seus pensamentos.
- O que pensas
desta história?
- O que posso
pensar?
- O que te
diz a tua intuição?
- Que há muito por descobrir!?... Que há mais
para além das evidências!
Selénia segurou
a mão de Diana carinhosamente.
Rafael sentia
que havia algo que não conseguia descortinar, embora lhe parecesse poder confiar
em Selénia. Ela parecia nutrir verdadeiro afecto por Diana e isso parecia
dar-lhe alguma segurança, mesmo que não soubesse explicar porquê.
- Vieste
contar-me? – acabou por perguntar Selénia.
- Vim pedir-vos
ajuda! Preciso de encontrar Belchior, saber o que aconteceu! Preciso de
compreender o que me tem acontecido, aprender a controlar a magia do Dragão da
Lua!...
- E que ajuda
necessitas de mim? – perguntou de forma serena como se procurasse acalmar
Diana.
- Por favor,
voltai a chamar a mim a Visão!
Selénia
olhava-a séria. Olhou Rafael e voltou a olhar para Diana.
- Em breve
será o Samhuin, a altura ideal para pedir a ajuda de minha mãe, meu pai... e talvez
do meu avô!